Angústia em Filosofia e Psicanálise

A compreensão acerca da angústia em Lacan, Heidegger e Kierkegaard
O texto apresentado tem como objetivo de mostrar
reflexões sobre a temática angústia, tendo
como referência Lacan e a angústia em oposição à tecnociência, Heidegger a angústia em oposição à metafísica e
Kierkegaard a angústia em oposição à organização hegeliana da filosofia.
A angústia, enquanto disposição afetiva
privilegiada assinala, na experiência do humano, a queda, o desamparo, a
hiância, a fratura, como estruturantes e constitutivos da existência. A
angústia destaca-se, portanto, como afeto fundamental da existência.
No pensamento lacaniano o tema angústia não é
trabalhado a partir da ciência (psicologia e psiquiatria), ele parte do viés
filosófico, pois, Lacan vê a angústia na filosofia como possibilidade da
existência e não de fuga.
Crer que a psiquiatria e a psicologia possam
estabelecer laços precisos entre nossos conflitos mentais e nossos sintomas
físicos é uma ilusão, mantida por enganosas metáforas, tais como a do
“desequilíbrio químico” que oferecem aos neuropsiquiatras e à sua audiência a
impressão de ter resolvido o enigma do que eles nomeiam ansiedade. Os
neurocientistas não reconhecem de bom grado as falhas de conhecimento, pois
foram formados na ideia segundo a qual existe para cada disfunção uma
explicação bioquímica ou genética.
Para Lacan a angústia é um afeto, estruturante da
existência, e como tal, interessa a psicanálise, uma vez que, é um afeto que
não se engana.
No Seminário A angústia (1962-1963), Lacan propõe a
angústia como um afeto e a diferença da emoção. Para ele, o afeto não é uma
emoção, pois a cada vez que se referencia aos afetos na psicanálise, procura-se
afastá-los das propostas de análise psicofisiológica e aproximá-los da
filosofia.
Já no campo da psicanálise,
Freud oferece explicações diferentes para a angústia, que, para ele, pode ser
uma resposta apropriada e racional a uma pressão externa ou interna. Ele mantém
uma flexibilidade entre o saudável e o doente, tratando seus pacientes em
função de seus sofrimentos, sem se importar com os signos já citados, do ponto
de vista médico ou psiquiátrico das afecções. Procurando separar as regras
pelas quais a psique oferece sentido aos fenômenos, Freud trabalha com o que a
ciência não pode explicar: os pontos cegos de nossa consciência, estranhos
desvios de nossos fantasmas, a irracionalidade de algumas de nossas ações, e
situações de angústia ou ansiedade irredutíveis a causas biológicas, pois, para
ele, sua origem não é orgânica.
Para Heidegger indica que
o primeiro a pensar esta questão foi Aristóteles, mostrando, por um lado, como
a realidade sempre aparece em uma disposição de humor – a mesma rosa aparece de
modos completamente diferentes para quem ama e para quem odeia e, por outro
lado, como o discurso pode promover disposições em seus ouvintes. Pela
amplitude e profundidade desse seu pensamento, Heidegger vai afirmar que “desde
Aristóteles, a interpretação ontológica fundamental dos afetos não conseguiu
dar nenhum passo significativo.
Para compreendermos como
Heidegger pensa a disposição da angústia, torna-se necessário mostrar como tal
questão se insere em seu projeto filosófico de “desconstrução da metafísica”
que indica um duplo movimento, destruir e construir corresponde, a uma
destruição da interpretação ontológica da tradição filosófica, a fim de
reconstruir a questão do ser em um horizonte de pensamento não mais metafísico.
Por nossa existência
existencial, Heidegger indica que somos no mundo. Somos o aparecimento de nosso
vir a ser jogados no aí do aqui e agora de nossa situação; por existirmos,
somos um ente aberto ao ser. Existir é compreender o que o ente é, consiste em
estar na clareira do ser.
Para Kierkegaard
insurgiu-se contra a visão de sistema do pensamento de Hegel, instala-se como
“adversário”, vendo em seu pensamento uma “miragem do idealismo”. Kierkegaard é
um pensador religioso, que assume o debate sobre o cristianismo em posição
discordante da reconciliação hegeliana entre filosofia e cristianismo. Para Kierkegaard,
Deus encontra com o indivíduo, e este encontro a razão não alcança. Não se
alcança Deus pela razão, no expediente objetivo da contemplação, mas é,
sobretudo, uma questão de vocação, que somente o apelo da fé pode entender.
Lacan articula a
psicanálise ao Conceito da Angústia de Kierkegaard tornando-se referência que
se insere em um contexto de retomada da dialética hegeliana por meio da
articulação do desejo e do objeto a.
Em seus termos: “convém que o analista seja esse que, por pouco que seja, por
algum viés, por alguma borda, tenha feito entrar seu desejo nesse a irredutível
para oferecer à questão do conceito da angústia uma garantia real” (LACAN, 2004[1963],
p.390).
Kierkegaard critica a
proposta hegeliana de dar movimento à lógica. Para ele, a lógica é imobilidade
pura e o movimento não pode ser inserido na lógica, pois é contrário à sua
natureza. Para ele, a realidade e a lógica não se interpenetram.
Para Kierkegaard é impossível ser um existente
sem provar a paixão. Já para Hegel, “o anti-humano, o animalesco, consiste em
ficar no estágio do sentimento” (HEGEL, p. 68).
O essencial da idéia de Kierkegaard se
concentra na manutenção do paradoxo e Hegel se resume na idéia de suprassunção.
Para Kierkegaard o pecado e a angústia não têm
lugar na ciência. O pecado e a angústia são da ordem do existente.
Para Kierkegaard todo homem
é angustiado, mesmo o mais feliz de todos. A angústia é característica humana.
Quanto maior é a sua angústia, mais humanizado se torna o homem.
Referência Bibliográfica:
MURTA,
Cláudia. Angústia em filosofia e
psicanálise/ Cláudia Murta, Fernando Pessoa – Dados eletrônicos – Vitória:
Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2017.
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