PAIXÕES E PSICANÁLISE - DIMENSÕES MODERNOS DA NATUREZA HUMANA.
Fichamento do texto lido Leviatã do autor Thomas Hobbes, destacando e avaliando o fundamento mecânico e passional que Hobbes atribui à natureza humana:
CAPÍTULO I
Fichamento do texto lido Leviatã do autor Thomas Hobbes, destacando e avaliando o fundamento mecânico e passional que Hobbes atribui à natureza humana:
CAPÍTULO I
Da
sensação
No que se refere aos pensamentos
do homem, considerá-los-ei primeiro isoladamente, e depois em cadeia ou
dependentes uns dos outros. Isoladamente, cada um deles é uma representação ou
aparência de alguma qualidade, ou outro acidente de um corpo exterior a nós, o
que comumente se chama um objeto. O qual o objeto atua nos olhos, nos ouvidos,
e em outras partes do corpo do homem, e pela forma diversa como a tua produz
aparências diversas.
A origem de todas elas é aquilo que
denominamos sensação (pois não há nenhuma concepção no espírito do homem, que
primeiro não tenha sido originado, total ou parcialmente, nos órgãos dos
sentidos). O resto deriva daquela origem.
A causa da sensação é o corpo exterior, ou objeto, que pressiona o órgão
próprio de cada sentido, ou de forma imediata, como no gosto e tato, ou de
forma mediata, como na vista, no ouvido, e no cheiro. E é a esta aparência, ou
ilusão, que os homens chamam sensação.
CAPÍTULO
II
Da imaginação
A imaginação nada mais é, portanto
senão uma sensação diminuída, e encontra-se nos homens, tal como em muitos
outros seres vivos, quer estejam adormecidos, quer estejam despertos.
Daqui se segue que quanto mais tempo
decorrer desde a visão ou sensação de qualquer objeto, tanto mais fraca é a
imaginação. Pois a contínua mudança do corpo do homem destrói com o tempo as
partes que foram agitadas na sensação, de tal modo que a distância no tempo e
no espaço tem ambas o mesmo efeito em nós. Quando queremos exprimir a
diminuição e significar que a sensação é evanescente, antiga e passada,
denomina-se memória. Assim, a imaginação e a memória são uma e a mesma coisa,
que, por razões várias, tem nomes diferentes.
Muita memória, ou a memória de muitas
coisas, chama-se experiências.
As imaginações daqueles que se
encontram adormecidos denominam-se sonhos.
Em suma nossos sonhos são o reverso de
nossas imaginações despertas, iniciando-se o movimento por um lado quando
estamos acordados, e por outro quando sonhamos.
Observa-se a maior dificuldade em
discernir o sonho dos pensamentos despertos quando, por qualquer razão, nos
apercebemos de que não dormimos o que é fácil de acontecer a um homem cheio de
pensamentos terríveis e cuja consciência se encontra muito perturbada e dorme
sem mesmo ir para a cama ou tirar a roupa, como alguém que cabeceia numa
cadeira. Pois aquele que se esforça por dormir e cuidadosamente se deita para
adormecer, no caso de lhe aparecer alguma ilusão inesperada e extravagante, só
pode pensar como um sonho.
A imaginação que surge no homem (ou
qualquer outra criatura dotada da faculdade de imaginar) pelas palavras, ou
quaisquer outros sinais voluntários, é o que vulgarmente chamarmos
entendimento, e é comum ao homem e aos outros animais. Aquele entendimento que
é próprio do homem é o entendimento não só de sua vontade, mas também de suas
concepções e pensamentos, pela seqüência e contextura dos nomes das coisas em
afirmações, negações, e outras de discurso, e deste tipo de entendimento.
CAPÍTULO VI
Da origem interna dos
movimentos voluntários vulgarmente chamados
paixões: e da linguagem que os exprime.
Há nos animais dois tipos de movimento
que lhes são peculiares. Um deles chama-se vital; começa com a geração, e
continua sem interrupção durante toda a vida. Deste tipo são a circulação do
sangue, o pulso, a respiração, a digestão, a nutrição, a excreção, etc. Para
estes movimentos não é necessária a ajuda da imaginação. O outro tipo é o dos
movimentos animais, também chamados movimentos voluntários, como andar, falar,
da maneira como anteriormente foi imaginada pela mente. A sensação é o movimento
provocado nos órgãos e partes inferiores do corpo do homem pela ação das coisas
que vemos, ouvimos etc., e a imaginação é apenas o resíduo do mesmo movimento,
que permanece depois da sensação.
Quando o esforço vai ao sentido de
evitar alguma coisa chama-se geralmente aversão. As palavras apetite e aversão,
ambas designam movimentos, um de aproximação e o outro de afastamento.
Assim, há três espécies de bem: o bem
da promessa, o bem do efeito e o bem proveitoso.
Tal como na sensação aquilo que
realmente está dentro de nós é apenas movimento provocado pela ação dos objetos
externos, mas em aparência. A aparência ou a sensação desse movimento é o que
se chama deleite, ou então perturbação do espírito.
Este movimento a que se chama de
apetite, notadamente em sua manifestação como deleite e prazer, parece
constituir uma colaboração do movimento vital, e uma ajuda prestada a este.
Portanto as coisas que provocam deleite eram, com toda a propriedade, chamada
jucunda (à juvando), porque ajudavam e fortaleciam; e eram chamadas molesta,
ofensivas, as que impediam e perturbavam o movimento vital.
Portanto o prazer é a aparência ou
sensação do bem, e desprazer ou desagrado é a aparência ou sensação do mal.
Conseqüentemente, todo apetite, desejo e amor é acompanhado por um deleite
maior ou menor, e todo ódio e aversão por um desprazer e ofensa maior e menor.
O sucesso contínuo na obtenção daquelas
coisas que de tempos a tempos os homens desejam, quer dizer, o prosperar
constante, é aquilo a que os homens chamam de felicidade. Pois não existe uma
perpétua tranqüilidade de espírito, enquanto aqui vivemos, porque a própria
vida não passa de movimento, e jamais pode deixar de haver desejo, ou medo, tal
como não pode deixar de haver sensação.
A forma de linguagem através da qual os
homens exprimem sua opinião da excelência de alguma coisa chama-se louvor.
Aquela pela qual exprimem o poder e grandeza de alguma coisa é exaltação. E
aquela pela qual exprimem a opinião que têm da felicidade de um homem. E isto é
que basta dizer sobre as paixões para o objetivo do momento.
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